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Francisco Candido Xavier
A Vida Fala I, II, III
Pelo Espírito Neio Lúcio
Editora Feb
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Conteúdo Resumido
A obra é constituída de três volumes ditados pelo Espírito Neio Lúcio. As histórias que a compõem são desenvolvidas sob a forma de quadrinhos. Os livros contêm, também, quadrinhas instrutivas.
O primeiro volume apresenta uma prece à Mãe Santíssima, de autora do Espírito Anália Franco.
O segundo volume uma poesia assinada pelo Espírito João de Deus.
O terceiro volume um texto do Espírito Scheilla.
O trabalho é uma adaptação, ao nível do público infantil, do livro "Alvorada Cristã", tendo por objetivo passar ensinamentos sobre: caridade, gentileza, humildade, preguiça, revolta e trabalho.
Pretende fazer, deste modo, uma preparação das crianças para o estudo das noções básicas do Evangelho.
Aconselhável para crianças de 7 a 10 anos ou acima de 90 anos.
Sumário
A Vida Fala I
Francisco Candido Xavier - Neio Lúcio / 03
Índice
A - O Poder da Gentileza / 04
B - O Elogio da Abelha / 07
C - A Galinha Afetuosa / 10
Prece à Mãe Santíssima - Anália Franco / 13
A Vida Fala II
Francisco Candido Xavier - Neio Lúcio / 15
Índice
A - O Burro de Carga / 16
B - Carneiro Revoltado / 19
No Tempo da Educação - João de Deus / 22
A Vida Fala III
Francisco Candido Xavier - Neio Lúcio / 23
Índice
A - A Lição Inesquecível / 24
B - O Aprendiz Desapontado / 27
C - O Remédio Imprevisto / 29
Luz no Lar - Scheilla / 32
A Vida Fala I
Francisco Candido Xavier - Neio Lúcio
Índice
A - O Poder da Gentileza
B - O Elogio da Abelha
C - A Galinha Afetuosa
Prece à Mãe Santíssima - Anália Franco
A - O Poder da Gentileza
Eminente professor negro, interessado em fundar uma escola num bairro pobre, onde centenas de crianças desamparadas cresciam sem o benefício das letras, foi recebido pelo prefeito da cidade.
O prefeito ouvir-lhe o plano e disse-lhe:
- A lei e a bondade nem sempre podem estar juntas. Organize uma casa e autorizaremos a providência.
O benfeitor dos meninos desprotegidos considerou:
- Mas doutor, não dispomos de recursos... Que fazer?
- De qualquer modo, cabe-nos amparar os pequenos analfabetos.
Diante de sua figura humilde, o prefeito disse:
- O senhor não pode intervir na administração.
O professor muito triste retirou-se e passou a tarde e a noite daquele sábado, pensando, pensando...
Domingo, muito cedo saiu a passear, sob as grandes árvores, na direção de antigo mercado.
Ia comentando, na oração silenciosa:
- Meu Deus como agir? Não receberemos um pouso para as criancinhas, Senhor?
Absorvido na meditação, atingiu o mercado e entrou.
O movimento era enorme.
Muitas compras. Muita gente.
Certa senhora, de apresentação distinta, aproximou-se dele e tomando-o por servidor vulgar, de mãos desocupadas e cabeça vazia, exclamou:
- Meu velho, venha cá.
O professor acompanhou-a sem vacilar.
À frente dum saco enorme, em que se amontoavam mais de trinta quilos de verdura, a matrona recomendou:
- Traga-me esta encomenda.
Colocou ele o fardo às costas e seguiu-a.
Caminharam seguramente uns quinhentos metros e penetraram elegante vivenda,
Ela solicitou de novo:
- Tenho visitas hoje. Poderá ajudar-me no serviço geral?
- Perfeitamente – respondeu o interpelado -, dê suas ordens.
Ela indicou pequeno pátio e determinou-lhe a preparação de meio metro de lenha para o fogão.
Empunhando o machado, o educador, com esforço, rachou algumas toras.
Em seguida, foi chamado para retificar a chaminé.
Consertou-a com sacrifício da própria roupa.
Sujo de pó escuro, da cabeça aos pés, recebeu ordens de buscar um peru assado.
Pôs-se a caminho, por mais de dois quilômetros, trazendo o grande prato em pouco tempo.
Logo mais, atirou-se à limpeza de extenso recinto em que se efetuaria lauto almoço.
Nas primeiras horas da tarde, sete pessoas davam entrada no fidalgo domicílio. Entre elas, relacionava-se o prefeito que anotou a presença do visitante da véspera, apresentado ao seu gabinete por autoridades respeitáveis.
Reservadamente, indagou sua irmã, que era a dona da casa, quanto ao novo conhecimento, conversando ambos na surdina.
Ao fim do dia, a matrona distinta e autoritária, com visível desapontamento, veio ao servo improvisado e pediu o preço dos trabalhos.
- Não pense nisto - respondeu com sinceridade -, tive muito prazer em ser-lhe útil.
No dia imediato, contudo, a dama da véspera procurou-o, na sua casa modesta em que se hospedava e, depois de rogar-lhe desculpas, anunciou-lhe a concessão de amplo edifício, destinado à escola que pretendia estabelecer. As crianças usariam o patrimônio à vontade e o prefeito autorizaria a providência com satisfação.
O professor teve os olhos úmidos a alegria e o reconhecimento... e agradecendo e beijou-lhe as mãos, respeitoso.
A bondade dele vencera os impedimentos legais.
O exemplo é mais vigoroso que a argumentação.
A gentileza está revestida, em toda parte, de glorioso poder.
B - O Elogio da Abelha
Grande mosca verde-azul, mostrando envaidecida as asas douradas pelo Sol, penetrou uma sala e encontrou uma abelha humilde a carregar pequena provisão de recursos para elaborar o mel.
A mosca arrogante aproximou-se e falou, vaidosa:
- Onde você surge, todos fogem. Não te sentes indesejável? Teu aguilhão é terrível.
- Sim – disse a abelha com desapontamento -, creia que sofro muitíssimo quando sou obrigada a interferir. Minha defesa é, quase sempre, também a minha morte.
- Mas não podes viver com mais distinção e delicadeza? – tornou a mosca – por que ferretoar, a torto e a direito?
- Não minha amiga – esclareceu a interlocutora -, não é bem assim. Não sinto prazer em perturbar. Vivo tão-somente para o trabalho que Deus me confiou, que representa benefício geral.
E, quando alguém me impede a execução do dever, inquieto-me e sofro, perdendo, por vezes, a própria vida.
- Creio, porém, que se tivesses modos diferentes... se polisses as asas para que brilhassem à claridade solar... se você se vestisses em cores iguais às minhas, talvez não precisasses alarmar a ninguém.
Pessoa alguma te recearia a intromissão.
- Ah! Não posso despender muito tempo em tal assunto... disse a abelha. O serviço não me permite a apresentação exterior muito primorosa, em todas as ocasiões.
A produção de mel indispensável ao sustento da nossa colméia, e necessária a muita gente, não me ofereces ensejo a excessivos cuidados comigo mesma.
- Repara! – disse-lhe a mosca, desdenhosa – tuas patas estão em lastimável estado...
- Encontro-me em serviço – explicou-se a operária humildemente.
- Não! não! – protestou a mosca – isto é relaxamento.
E limpando caprichosamente as asas, a mosca recuou e aquietou-se, qual se estivesse em observação.
Nesse instante, duas senhoras e uma criança penetraram o recinto e, notando a presença da abelha que buscava sair ao encontro de companheiras distantes, uma das matronas gritou, nervosa:
- Cuidado! cuidado com a abelha! Fere sem piedade!...
A pequeninha trabalhadora alada dirigiu-se para o campo
A mosca passou exibir-se, voando despreocupada.
- Que bonita, parece uma jóia. Que maravilha!
A mosca preguiçosa planou... planou... e, encaminhando-se para a copa, penetrou o guarda-comida, deitou varejeiras na massa dos pastéis e infectou pratos diversos... e pousou-lhe na cabeça, infeccionando certa região que se achava ligeiramente ferida.
Decorridas algumas horas, sobravam preocupações para toda a família. A encantadora mosca verde-azul deixara imundície e enfermidade por onde passara.
Quantas vezes sucede isto mesmo, em plena vida?
Há criaturas simples, operosas e leais, de trato menos agradável, à primeira vista, que, à maneira da abelha, sofrem sarcasmos e desapontamentos por bem cumprir a obrigação que lhes cabe, em favor de todas; e há muita gente de apresentação brilhante, quanto a mosca, e que, depois de seduzir-nos a atenção pela beleza da forma, nos deixa apenas larvas da calúnia, da intriga, da maldade, da revolta e do desespero no pensamento.
C - A Galinha Afetuosa
Gentil galinha, cheia de instintos maternais, encontrou um ovo de regular tamanho e espalmou as asas sobre ele, aquecendo-o carinhosamente. De quando em quando, beijava-o, enternecida. Se saía a buscar alimento, voltava apressada, para que lhe não faltasse calor vitalizante. E pensava garbosa:
- "Será meu pintainho! será meu filho!”.
Em formosa manhã de céu claro, notou que o filhotinho nascia robusto.
Criou-o, com todos os cuidados.
Um dia porém, viu-o fugir pelas águas de um lago, sobre as quais deslizava.
Chamou-o como louca:
... e não houve resposta. Ele era um pato arisco e fujão.
A galinha, voltou muito triste, ao velho poleiro.
- choquei um ovo de quem não pertencia a família...
Encontrou outro ovo... chocou-o. Outra ave nasceu.
Tratou-o com mil cuidados...
... e notou que não era pintainho.
Era um corvo esperto.
Um dia, o corvinho voou, juntando-se a outros.
A galinha sofreu muitíssimo.
Embora resolvida a viver só, foi surpreendida certo dia, por outro ovo. Chocou-o.
Dentro de pouco o filhote surgia. A galinha afagou-o feliz.
Quando o filho estava crescido:
- ora ele persegue ratos na sombra!
Durante o dia era um desastrado... ele parecia cego. À noite seus olhos brilhavam. Era uma corujinha que acabou fugindo da mãe.
A mãe chorou amargamente.
Encontrando outro ovo, buscou ampará-lo.
E findos trinta dias, veio a luz corpulento filhote.
A galinha ajudou-o como pôde.
O filho cresceu demais. Ele passou a mirá-la de alto a baixo.
Chegava a maltratá-la.
Não me aborreça!
Era um pavãozinho orgulhoso.
A carinhosa ave, dessa vez, desesperou em definitivo. Saiu do galinheiro gritando e dispunha-se a cair nas águas de rio próximo, em sinal de protesto contra o destino, quando grande galinha mais velha a abordou, curiosa, a indagar dos motivos de sua dor.
A pobre respondeu, historiando o próprio caso.
A irmã experiente estampou no olhar linda expressão de complacência e considerou, cacarejando:
- Que é isto amiga? não desespere. A obra do mundo é de Deus, nosso Pai.
Há ovos de toda espécie inclusive os nossos.
Continue chocando e ajudando em nome do Poder Criador; entretanto, não se prenda aos resultados do serviço que pertencem a Ele e não a nós.
A galinha sofredora aceitou o argumento, resignou-se e voltou, mais calma, ao grande parque avícola a que se filiava.
Não podemos obrigar os outros a serem iguais a nós, mas é possível auxiliar a todos, de acordo com as nossas possibilidades.
Entendeu?
O caminho humano estende-se, repleto de dramas iguais a este. Temos filhos, irmãos e parentes diversos que de modo algum se afinam com as nossas tendências e sentimentos. Trazem consigo inibições e particularidades de outras vidas que não podemos eliminar de pronto. Estimaríamos que nos dessem compreensão e carinho, mas permanecem imantados a outras pessoas e situações, com as quais assumiram inadiáveis compromissos. De outras vezes, respiram noutros climas evolutivos.
Não nos aflijamos, porém.
A cada criatura pertence à claridade ou a sombra, a alegria ou a tristeza do degrau em que se colocou.
Amemos sem o egoísmo da posse e sem qualquer propósito de recompensa, convencidos de que Deus fará o resto.
Prece à Mãe Santíssima
Mãe Santíssima...
Enquanto as mães do mundo são reverenciadas, deixa te recordemos a pureza incomparável e o exemplo sublime...
Soberana, que recebeste na palha singela o redentor da Humanidade, sem te rebelardes contras as mães felizes, que afagam Espíritos criminosos em palácios de ouro, ensina-nos a entesourar as bênçãos da humildade.
Lâmpada de ternura, que apagastes o próprio brilho para que a luz do Cristo fulgurasse entre os homens, ajuda-nos a buscar na construção do bem para os outros o apoio de nossa própria felicidade.
Benfeitora, que te desvelaste, incessantemente, pelo Mensageiro da eterna sabedoria, sofrendo-lhe as dores e compartilhando-lhe as dificuldades, sem qualquer pretensão de furtá-lo aos propósitos de Deus, auxiliando-nos a extirpar do sentimento as raízes do egoísmo e da crueldade com que tantas vezes tentamos reter na inconformação e no desespero os corações que mais amamos.
Senhora, que viste na cruz da morte o Filho Divino, acompanhando-lhe a agonia com as lagrimas silenciosas de tua dor, sem qualquer sinal de reclamação contra os poderes do Céu e sem qualquer expressão de revolta contra as criaturas na Terra, conduze-nos para a fé que redime e para a renúncia que eleva.
Missionária, salva-nos do erro.
Anjo, estende sobre nós as níveas asas!...
Estrela, clareia-nos a estrada com teu lume...
Mãe querida agasalha-nos a existência em teu manto constelado de amor!...
E que todas nós, mulheres desencarnadas e encarnadas em serviço da Terra, possamos repetir, diante de Deus, cada dia, a tua oração de suprema fidelidade:
- “Senhor, eis aqui tua serva, cumpra-se em mim segundo a tua palavra.”
Anália Franco
(Mensagem psicofonicamente obtida de Espírito Anália Franco, na noite de 10-05-1956, no "Grupo Meimei", em Pedro Leopoldo, MG, no encerramento da reunião comemorativa do Dia das Mães, Extraída da obra "Vozes do Grande além", de vários Espíritos, por Francisco cândido Xavier, FEB, 2ª Edição).
Fim do Primeiro Livrinho
A Vida Fala II
Francisco Candido Xavier - Neio Lúcio
Índice
A - O Burro de Carga
B - Carneiro Revoltado
No Tempo da Educação - João de Deus
A - Burro de Carga
No tempo em que não havia automóveis, na cocheira de famoso palácio real um burro de carga curtia imensa amargura, em vista das pilhérias e remoques dos companheiros de apartamento.
Reparando-lhe o pelo maltratado, as fundas cicatrizes do lombo e a cabeça tristonha e humilde, aproximou-se formoso cavalo árabe, que se fizera detentor de muitos prêmios.
Junto com o cavalo árabe, veio um potro de fina origem inglesa.
- Triste sina a que você recebeu! Não Inveja minha posição nas corridas? Sou acariciado por mãos de princesas e elogiado pela palavra dos reis!
- Pudera! - como conseguirá um burro entender o brilho das apostas e o gosto da caça?
O infortunado animal recebia os sarcasmos, resignadamente.
Outro soberbo cavalo, de procedência húngara, entrou no assunto e comentou:
- Esse burro é um covarde!
Sofreu nas mãos do bruto amansador, sem dar ao menos um coice.
É vergonhoso suportar-lhe a companhia.
Um jumento espanhol acercou-se e acentuou sem piedade:
- Lastimo reconhecer neste burro um parente próximo. É um desonrado, fraco, inútil...
Desconhece o amor-próprio. Eu só aceito deveres dentro de um limite; Se abusam, pinoteio e sou capaz de matar.
As observações insultuosas não haviam terminado, quando o rei penetrou o recinto, em companhia do chefe das cavalariças.
- Preciso de um animal para serviço de grande responsabilidade - informou o monarca -, animal dócil e educado, que mereça absoluta confiança.
O empregado perguntou:
Não prefere o árabe, Majestade?
- Não, não - falou o soberano -, é muito altivo e só serve para corridas em festejos oficiais sem maior importância.
- Não quer o potro inglês?
- De modo algum. É muito irrequieto e não vai além das extravagâncias da caça.
- E o húngaro? Não deseja o húngaro?
- Não, não. É bravio, sem qualquer educação. É apenas um pastor de rebanho.
- O jumento serviria? - insistiu o servidor atencioso.
- De maneira nenhum. É manhoso e não merece confiança.
Decorridos alguns instantes de silêncio, o soberano indagou:
- Onde está o meu burro de carga?
Lá, Majestade.
O próprio rei puxou-o carinhosamente para fora, mandou ajaezá-lo com as armas resplandecentes de sua Casa e confiou-lhe o filho, ainda criança, para longa viagem.
Assim também acontece na vida.
Em todas as ocasiões, temos sempre grande número de amigos, de conhecidos e companheiros, mas somente nos prestam serviços de utilidade real aqueles que já aprenderam a suportar, servir e sofrer, sem cogitar de si mesmos.
B - Carneiro Revoltado
Certo carneiro muito inteligente, mas indisciplinado, reparou os benefícios que a lã espalhava em toda parte, e, desde então, julgou-se melhor que os outros seres da Criação, passando a revoltar-se contra a tosquia.
– Se era tão precioso – pensava –, porque aceitar a humilhação daquela tesoura enorme? Experimentava intenso frio, de tempos a tempos, e, despreocupado das ricas rações que recebia no redil, detinha-se apenas no exame dos prejuízos que supunha sofrer.
Muito amargurado, dirigiu-se ao Criador.
– Meu Pai, não estou satisfeito com a minha pelagem. A tosquia é um tormento... Modifica-me, Senhor!...
– Que desejas que eu faça?
Vaidosamente, o carneiro respondeu ao Criador:
– Quero que a minha lã seja toda de ouro.
A rogativa foi satisfeita.
O carneiro tornou-se de ouro.
Assim que o orgulhoso ovino se mostrou cheio de pêlos preciosos, várias pessoas ambiciosas atacaram-no sem piedade.
Arrancaram-lhe, violentamente, todos os fios, deixando-o em chagas.
O infeliz, a lastimar-se, correu para o Altíssimo e implorou:
– Meu Pai, muda-me novamente!
Não posso exibir lã dourada, encontraria sempre salteadores sem compaixão.
– Que queres que eu faça?
O carneiro, com mania de grandeza, suplicou:
– Quero que a minha lã seja lavrada em porcelana primorosa.
E o carneiro teve sua lã transformada em porcelana.
Logo que tornou ao vale, apareceu no céu enorme ventania, que lhe quebrou todos os fios, dilacerando-lhe a carne.
Aflito, queixou-se ao Todo-Misericordioso:
– Pai, renova-me!... A porcelana não resiste ao vento... Estou exausto...
Disse-lhe o Senhor:
– Que desejas que eu faça?
O carneiro nem pensou e foi dizendo:
– Para não provocar os ladrões e nem me ferir com porcelana quebrada, quero que a minha lã seja feita de puro mel.
O Criador satisfez o pedido.
A lã do carneiro tornou-se do mais puro mel.
Mas, logo que o pobre se achou no redil, bandos de moscas asquerosas cobriram-no em cheio e, por mais corresse campo afora, não evitou que elas lhe sugassem os fios adocicados.
O mísero voltou ao Altíssimo e implorou:
– Pai, modifica-me... as moscas deixaram-me em sangue!
O Senhor indagou, de novo.
– Que queres que eu faça?
Dessa vez, o carneiro pensou mais tempo e considerou:
Eu seria mais feliz se tivesse minha lã semelhante às folhas de alface.
Atendido, voltou à planície, na caprichosa alegria de parecer diferente dos demais.
Quando alguns cavalos lhe puseram os olhos no carneiro, ele não conseguiu melhor sorte que das outras vezes. Os eqüinos prenderam-no com os dentes e, depois de lhe comerem a lã, abocanharam-lhe o corpo.
O carneiro correu na direção do Juiz Supremo, gotejando sangue das chagas profundas, e, em lágrimas, gemia:
O Todo-Compassivo, vendo que ele se arrependera com sinceridade, observou:
– Meu Pai, não suporto mais!...
– Reanima-te, meu filho!
Que pedes agora?
Não pretendo a superioridade sobre meus irmãos.
O carneiro infeliz replicou, em pranto:
– Pai, quero voltar a ser um carneiro comum, como sempre fui.
E terminou: Quero ser simples e útil, qual o Senhor me fez!...
- Hoje sei que meus tosquiadores são meus amigos.
Nunca me deixaram ferido e sempre me deram de beber e de comer.
O Pai sorriu, bondoso, abençoou-o com ternura e falou:
– Volta e sega seu caminho em paz. Você compreendeu enfim, que meus desígnios são justos. Cada criatura está colocada, por minha Lei, no lugar que lhe compete e, se pretendes receber, aprende a dar.
Então o carneiro, envergonhado, mas satisfeito, voltou para o vale, misturou-se com os outros e daí por diante foi muito feliz.
No Tempo da Educação
Distribuía o mestre os dons divinos
Da luz do seu Espírito sem jaça,
E exclama, enquanto a turba observa e passa:
- Deixai virem a mim os pequeninos!...
É que na alma sincera dos meninos
Há uma luz de ternura, amor e graça,
De que senhor da Paz quer que se faça
O sol da nova estrada dos destinos.
Vós, que tendes a fé que ama e consola,
Fazei do vosso lar a grande escola
Da justiça, de amor e de humildade!
As conquistas morais são toda a glória
Que alma busca na vida transitória,
Pelos caminhos da imortalidade.
João de Deus
(Extraído do livro “Parnaso de Além-Túmulo, autores espirituais diversos, psicografia de Francisco Candido Xavier”)
Fim do Segundo Livrinho
A Vida Fala III
Francisco Candido Xavier - Neio Lúcio
Índice
A - A Lição Inesquecível
B - O Aprendiz Desapontado
C - O Remédio Imprevisto
Luz no Lar - Scheilla
A - A Lição Inesquecível
Hilda, menina abastada, diariamente dirigia más palavras à pequena vendedora de doces que lhe batia humildemente à porta da casa.
- Que vergonha! De bandeja! De esquina a esquina! Suma daqui! - gritava, sem razão.
A modesta menina se punha pálida e trêmula. Entrementes, a dona da casa, tentando educar a filha, vinha ao encontro da pequena humilhada e dizia bondosa:
- Que doces tão perfeitos! Quem os fez assim tão lindos?
A mocinha, reanimada, respondia, contente:
- Foi a mamãe.
A generosa senhora comprava sempre alguma coisa e, em seguida, recomendava à filha:
- Hilda, não brinques com o destino. Nunca expulses o necessitado que nos procura.
Quem sabe o que sucederá amanhã?
A menina resmungava e, à noite, ao jantar, o pai secundava os conselhos maternos, acrescentando algo:
- Não zombes de ninguém, minha filha!
O trabalho, por mais humilde, é sempre respeitável e edificante.
Aqueles que socorremos poderão vir a ser nossos benfeitores.
Mas, no dia seguinte, Hilda fustigava a vendedora, exclamando:
- Fora daqui! Bruxa! Bruxa! ...
E a mãe de Hilda sempre acolhia a pequena.
Correu o tempo e, depois de quatro anos, o quadro da vida se modificara. O paizinho de Hilda adoeceu e debalde os médicos procuraram salvá-lo. Morreu numa tarde calma, deixando o lar vazio.
A viúva recolheu-se ao leito extremamente abatida e, com as despesas enormes, em breve a pobreza e o desconforto invadiram-lhe a residência. A pobre senhora mal podia mover-se.
Privações chegaram em bando. A menina, anteriormente abastada, não podia agora comprar nem mesmo um par de sapatos.
Aflita por resolver a angustiosa situação, certa noite Hilda chorou muitíssimo, lembrando-se do papai.
Oh! Papai... Meu papai...
Dormiu, lacrimosa e sonhou que ele vinha da Espiritualidade confortá-la.
- Papai...Papai...
- Minha filha!
Ouviu-o dizer, perfeitamente:
- Não desanimes, minha filha! Vá trabalhar! Venda doces para auxiliar a mamãe!...
No dia imediato despertou, disposta a seguir o conselho:
Ajudou a mãezinha enferma a fazer muitos quadradinhos de doce-de-leite e, logo após, saiu a vendê-los. Algumas pessoas generosas compravam-nos com evidente intuito de auxiliá-la; entretanto, outras criaturas, principalmente meninos perversos, gritavam-lhe aos ouvidos:
- Sai daqui! Bruxa de bandeja! ...
Sentia-se triste e desalentada, quando bateu à porta de uma casa modesta. Graciosa jovem atendeu.
- Você Hilda?
- Oh! Eu...
Hilda esperava ser maltratada por vingança, já que era a jovem que noutro tempo vendia cocadas.
Mas a jovem sorriu.
- Que doces tão perfeitos! Quem os fez assim tão lindos?
A interpelada lembrou os ensinamentos maternos de anos passados e informou:
- Foi a mamãe.
A ex-vendedora comprou quantos quadradinhos restavam na bandeja e abraçou-a com sincera amizade.
Desse dia em diante, a menina vaidosa transformou-se para sempre. A experiência lhe dera inesquecível lição.
B - O Aprendiz Desapontado
Um menino que desejava ardentemente residir no Céu, numa bonita manhã, quando se encontrava no campo, em companhia de um burro, recebeu a visita de um Bom Espírito.
Reconheceu, depressa, o emissário de Cima, pelo sorriso bondoso e pela veste resplandecente.
O rapazelho gritou:
- Mensageiro de Jesus, quero o paraíso!
Que fazer para chegar até lá?!
O Espírito respondeu com gentileza:
- O primeiro caminho para o Céu é a obediência e, o segundo, é o trabalho.
Venho a este campo para auxiliar a Natureza.
O menino ficou pensativo. E o espírito convidou:
- Queres ajudar-me a limpar o chão, carregando estas pedras?
O menino respondeu:
- Não posso.
O emissário celeste se dirigiu ao burro:
- Você quer ajudar-me?
E o burro concordou.
O animal pacientemente, transportou tudo.
O Espírito passou a dar ordens:
- Abramos um caminho.
- Eu não! Disse o menino.
- Ajudarei... prontificou-se o burro.
-Vamos mover o arado. Sugeriu o Espírito.
- Safa! Não quero nada, disse o menino.
- Eu ajudo... apresentou-se o burro...
Durante a sementeira, o pequeno repousava e o burro trabalhava.
Abriram um filete de água.
O jovem, cheio de saúde e de leveza, permanecia amuado, choramingando sem razão.
No fim do dia, o campo estava lindo.
Canteiros bem desenhados surgiam ao centro, ladeados por fios de água benfeitora.
As árvores pareciam orgulhosas de proteger os canteiros.
O vento parecia um sopro divino no matagal.
A Lua espalhou intensa claridade.
O Espírito abraçou o obediente animal.
- Deus abençoe sua contribuição, meu amigo, disse o Espírito.
O menino viu que o mensageiro se punha de volta, gritou, ansioso:
- Espírito querido, quero seguir contigo, quero ir para o Céu!...
O emissário divino respondeu, porém:
- O paraíso não foi feito para gente preguiçosa.
E o emissário informou:
Se você deseja encontrá-lo, aprende primeiramente a obedecer com o burro que soube ser disciplinado e educado também.
E assim esclarecendo subiu para as estrelas, deixando o rapazinho desapontado, mas disposto a mudar de vida.
C - O Remédio Imprevisto
O pequeno príncipe Julião andava doente e abatido.
Não brincava, não estudava, não comia.
Perdera o gosto de colher os pêssegos saborosos do pomar. Esquecera a peteca e o cavalo.
Vivia tristonho e calado no quarto, esparramado numa espreguiçadeira.
Enquanto a mãezinha, aflita, se desvelava junto dele, o rei experimentava muitos médicos.
Os facultativos, porém, chegavam e saíam, sem resultados satisfatórios.
O menino sentia grande mal-estar. Quando se lhe aliviava a dor de cabeça, vinha-lhe a dor nos braços. Quando os braços melhoravam, as pernas se punham a doer.
O soberano, preocupado, fez convite público aos cientistas do País. Recompensaria nababescamente a quem lhe curasse o filho.
- Que todos saibam de minha disposição.
Avisaremos a todos majestade disse seu auxiliar.
Depois de muitos médicos famosos ensaiarem, embalde, apareceu um velhinho humilde que propôs ao monarca diferente medicação.
- Qual será o preço do tratamento? perguntou o rei.
- Nada quero... respondeu o velhinho. Desejo apenas plena autoridade sobre seu filho.
O pai aceitou as condições e, no dia imediato, o menino foi entregue ao ancião.
O sábio anônimo conduziu-o a pequeno trato de terra e recomendou-lhe arrancasse a erva daninha que ameaçava um tomateiro.
- Vamos meu filho! Arranque a erva daninha.
- Não posso! estou doente! - gritou o menino.
O velhinho convenceu-o, sem impaciência, de que o esforço era necessário e, em minutos breves, ambos libertavam as plantas da erva invasora.
Antes do meio-dia, Julião disse ao velho que sentia fome, O sábio humilde sorriu, contente, enxugou-lhe o suor copioso e levou-o a almoçar.
- Sirva-se à vontade, Julião. Disse o velho.
O jovem devorou a sopa e as frutas, gostosamente.
Após ligeiro descanso, voltaram a trabalhar.
No dia seguinte, o ancião levou o príncipe a servir na construção de pequena parede.
- Vamos levantar uma parede disse o velho a Julião.
- Eu não sei!
- Quem não sabe aprende, Julião respondeu o velho.
À tarde sua fome era maior.
Novo programa foi traçado para Julião. Após o banho matinal, cavava a terra. Almoçava e repousava.
Ao entardecer, estudava e a noitinha, brincava e passeava com jovens da mesma idade.
Transcorridos dois meses, Julião era restituído à autoridade paternal, rosado, robusto e feliz. Ardia, agora, em desejos de ser útil, ansioso por fazer algo de bom. Descobrira, enfim, que o serviço para o bem é a mais rica fonte de saúde.
O rei, muito satisfeito, tentou recompensar o velhinho.
Todavia, o ancião esquivou-se, acrescentando:
— Grande soberano, o maior salário de um homem reside na execução da Vontade de Deus, através do trabalho digno. Ensine a glória do serviço aos teus filhos e tutelados e o teu reino será abençoado, forte e feliz.
Dito isto, desapareceu na multidão e ninguém mais o viu.
Luz no Lar
Organizemos a nosso agrupamento domestico do Evangelho.
O lar é o coração do organismo social.
Em casa, começa nossa missão no mundo.
Entre a s paredes do templo familiar, preparamo-nos para a vida com todos.
Seremos, lá fora, no grande campo de experiência pública, o prosseguimento daquilo que já somos na intimidade de nós mesmos.
Fujamos a frustração espiritual e busquemos no relicário doméstico o sublime cultivo dos nossos idéias com Jesus.
O evangelho foi iniciado na Manjedoura e demorou-se na casa humilde e operosa de Nazaré, antes de espraiar-se pelo mundo.
Não há serviço da fé viva, sem aquiescência e concurso do coração.
Sustemos em casa a chama de nossa esperança, estudando a Revelação Divina, praticando, estudando a Revelação Divina, praticando a fraternidade e crescendo em amor e sabedoria, porque, segundo a promessa do evangelho Redentor, onde estiveres dois ou três corações reunidos em seu nome, ai estará Jesus, amparando-nos para a ascensão a Luz Celestial, hoje, amanhã e sempre.
Scheilla
(Da obra “Luz no Lar”, de Francisco Cândido Xavier, por Diversos Espíritos, pp. 33/4, 2ª ed., Feb, 1972.)
Fim do Terceiro Livrinho
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